Os indonésios da comunidade Tugu vivem em uma zona que nunca foi colonizada por portugueses, mas tentam viver de acordo com os costumes lusos e promovem Portugal em um estilo de música popularizado.
A família Michiels é umas das 150 que compõem a comunidade de Tugu, próxima a Jacarta, e que conserva a cultura portuguesa através da música.
Não é fácil chegar a Tugu, a nordeste de Jacarta, capital da Indonésia. Mesmo ao fim de semana, o trânsito que liga à aldeia é caótico, devido à proximidade do porto de Tanjung Priok, o principal do país, com cerca de 430 hectares.
Apesar dos inúmeros camiões que entopem a estrada principal, sente-se uma tranquilidade ao chegar a Tugu, um ex-líbris de Portugal. Junto ao cemitério e à igreja branca datada do século XVII, há um espaço aberto e arvoredo que lembra o centro de algumas aldeias portuguesas, até pelos idosos que por ali vão deixando cair o tempo.
Os ancestrais dos tugu estão ligados aos escravos dos portugueses na Índia que foram levados para a Batávia (a antiga Jacarta) por holandeses. Ainda no século XVII, após o fim do império colonial português no Sudeste Asiático, chegaram àquela zona comerciantes, artesãos e aventureiros oriundos de Malaca, Ceilão, Cochim e Calecute. O cruzamento entre os dois grupos fez nascer os chamados “Portugueses Negros”, que tinham em comum a Língua Portuguesa e a religião cristã.
Os holandeses esforçaram-se por apagar as marcas portuguesas, alterando nomes e impondo o calvinismo, mas a língua papiá tugu resistiu. O último falante deste crioulo morreu em 1978. Agora, o idioma é apenas usado na música.
Há ainda uma biblioteca, construída com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, onde a comunidade pode ler em português. A zona é organizada, limpa e agradável e é comum ouvirem-se latidos, ao contrário do que acontece em Jacarta, já que, para a maioria dos muçulmanos, os cães são animais sujos.
–– Amor nunca consumado ––
Arthur, Lisa e Andre são três dos sete irmãos da família Michiels, uma das 150 famílias habitantes de Tugu, embora existam outros elementos da comunidade espalhados pelo país e também na Holanda.
Arthur, o porta-voz da comunidade, é o único que já visitou Portugal. Mas o país está no coração dos restantes, que provavelmente nunca terão oportunidade de pisar terras lusas.
A entrevista decorre numa sala que serve para os ensaios do grupo de música Keroncong Tugu e também para exibir prémios e fotografias. Há uma bandeira portuguesa a ocupar boa parte de uma parede, debaixo da fotografia dos pais da família Michiels, prémios e fotografias com altas personalidades do país, incluindo o atual Presidente da República, Susilo Bambang Yudhoyono.
Apesar de já terem passado 11 gerações desde a chegada dos portugueses a Batávia, alguns deles ainda têm características físicas europeias, como uma senhora com cabelos ruivos encaracolados. Andre tem os olhos castanhos e não pretos, contrariando a fisionomia predominante na Indonésia, e também o nariz do irmão Arthur é diferente do da maioria. O porta-voz da comunidade diz que carrega “muitos sentimentos no coração”, porque quando viajou até Portugal não se sentiu português, e na Indonésia distancia-se dos restantes por ter um nome europeu. “Quem sou eu?”, questiona, mostrando-se “orgulhoso, mas também triste”.
Até à geração dos pais de Lisa, os tugu tentavam casar entre si, mas agora a situação é diferente, pelo que as características físicas europeias deixarão de se notar, diz.
Os tugu ainda conservam algumas tradições portuguesas, como “beber algum vinho no Natal e no Ano Novo”, mas “a comida é totalmente diferente”, refere Lisa.
–– Música popular e Cristiano Ronaldo ––
O estilo de música popular keroncong começou a ser tocado com a chegada dos portugueses e do cavaquinho à Indonésia no século XVI. Hoje existem vários músicos de keroncong no país, mas o Keroncong Tugu, que nasceu em 1998 – embora na comunidade já existisse outro grupo –, é muito famoso porque os indonésios sabem que o estilo nasceu naquela aldeia. O keroncong alia elementos ocidentais e orientais, algo que também é visível nas vestes usadas pelo grupo.
Segundo Lisa Michiels, “ultimamente os jovens estão a gostar mais do keroncong“. “Nós tentamos apresentar o estilo nas escolas e na comunidade jovem”, acrescenta.
Através da música, os tugu têm aparecido várias vezes na televisão, viajaram pelo país e até para o estrangeiro, como Holanda, Singapura e Malásia. “Queremos mesmo muito, um dia, tocar esta música em Portugal”, confessa Lisa.
Em 2008, foi criado o grupo de dança tradicional portuguesa Romeiros de Tugu, com a ajuda do Instituto Camões. Há ainda um grupo de música para os mais novos, a maioria deles da família Michiels, sendo que, durante o encontro com o Público, há uma criança que canta Três pombinhas a voar.
Além disso, os tugu participam em eventos e organizam o festival Mandi-Mandi na primeira semana de janeiro na aldeia, que desperta a curiosidade dos visitantes.
Arthur, que se diz orgulhoso de a comunidade tugu ser portuguesa, afiança que os indonésios gostam de Portugal não só porque os portugueses não tiveram uma atitude “expansiva” na Indonésia como os holandeses, mas também por causa do futebol. “O Cristiano Ronaldo é como um deus”, diz, rematando com um riso aberto.
–– A música como suporte da cultura tugu ––
A comunidade faz questão de convidar as pessoas de fora para visitarem Tugu e aprenderem mais sobre a cultura, cujo maior sustentáculo é a música.
O Instituto Camões, que neste momento não tem leitor na Indonésia, ofereceu aulas de português à comunidade tugu, e Lisa e Arthur aproveitam a entrevista para ir recordando palavras e até pratos da gastronomia lusa.
Os irmãos falam com nostalgia também do tempo em que aprenderam a cozinhar e a fazer renda, e do carinho e atenção que dizem ter recebido do último embaixador português, Carlos Frota, que se reformou este ano. Atualmente, não há embaixador português na Indonésia.
Agora apenas podem treinar o português quando contactam com “alguns amigos portugueses” nas redes sociais. Mas os irmãos estão muito gratos pelas aulas, porque antes disso cantavam as músicas sem saberem o significado das letras.
“O meu pai apresentou-nos a cultura quando ainda éramos crianças. É por isso que nós amamos a nossa cultura e queremos que a nossa próxima geração também goste da cultura e a proteja”, vinca Lisa.
Andreia.
NOGUEIRA, .
Extraído do jornal Público (Portugal).
Publicado em: 27 nov. 2012.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
-"Patuá: dialeto de Macau"
Leitores: 625
Também chamado Crioulo Macaense, Papia Cristam di Macau, ou Doci Papiaçam di Macau, é um dialeto crioulo português formado em Macau a partir do século XVI. A maioria do vocabulário do Patuá é derivado do português e também do malaio e de crioulos de base portuguesa formados na Malásia, ( nomeadamente o kristang ), da língua sinala, de crioulos indo-portugueses e do cantonês. O Patuá era dominado e falado por um grande número de macaenses, por alguns chineses e, principalmente, pelas esposas chinesas de portugueses. A tentativa de, no final do século XIX, uniformizar a língua em todo o Império Português, fez com que macaenses da classe social alta deixassem de usar o Patuá e adotassem o português-padrão ensinado nas escolas, tendo passado o crioulo a ser considerado próprio das classes baixas.
O vídeo que se segue ridiculariza essa tentativa de ignorar o Patuá e mostra como a saudade consegue manter o dialeto vivo. É um vídeo altamente recomendável !
Também chamado Crioulo Macaense, Papia Cristam di Macau, ou Doci Papiaçam di Macau, é um dialeto crioulo português formado em Macau a partir do século XVI. A maioria do vocabulário do Patuá é derivado do português e também do malaio e de crioulos de base portuguesa formados na Malásia, ( nomeadamente o kristang ), da língua sinala, de crioulos indo-portugueses e do cantonês. O Patuá era dominado e falado por um grande número de macaenses, por alguns chineses e, principalmente, pelas esposas chinesas de portugueses. A tentativa de, no final do século XIX, uniformizar a língua em todo o Império Português, fez com que macaenses da classe social alta deixassem de usar o Patuá e adotassem o português-padrão ensinado nas escolas, tendo passado o crioulo a ser considerado próprio das classes baixas.
O vídeo que se segue ridiculariza essa tentativa de ignorar o Patuá e mostra como a saudade consegue manter o dialeto vivo. É um vídeo altamente recomendável !
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
-" Machado de Assis traduzido na China "
Leitores: 2.280
Politécnico de Macau quer formar tradutores de literatura
Por Hélder Beja do jornal Ponto Final (Macau, China) 6 de novembro de 2012.
O presidente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), Lei Heong Iok, admitiu que faltam mais tradutores capazes de verter textos literários entre as línguas chinesa e portuguesa, e espera que a instituição de ensino que dirige possa ajudar a colmatar essa lacuna. [...]
Ler mais deste artigo: http://ventosdalusofonia.wordpress.com/2012/11/11/politecnico-de-macau-quer-formar-tradutores-de-literatura/
Seminário em Lisboa sobre Macau e as relações entre Portugal, China e Brasil
Do sítio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa 14 de novembro de 2012.
O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, estará presente no IV Seminário Internacional "O Papel de Macau no Intercâmbio Sino-Luso-Brasileiro", que terá lugar neste dia 14 de novembro, pelas 18 horas, no Palácio da Independência, ao [...]
Ler mais deste artigo: l/http://ventosdalusofonia.wordpress.com/2012/11/14/seminario-em-lisboa-sobre-macau-e-as-relacoes-entre-portugal-china-e-brasil/
Politécnico de Macau quer formar tradutores de literatura
Por Hélder Beja do jornal Ponto Final (Macau, China) 6 de novembro de 2012.
O presidente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), Lei Heong Iok, admitiu que faltam mais tradutores capazes de verter textos literários entre as línguas chinesa e portuguesa, e espera que a instituição de ensino que dirige possa ajudar a colmatar essa lacuna. [...]
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Seminário em Lisboa sobre Macau e as relações entre Portugal, China e Brasil
Do sítio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa 14 de novembro de 2012.
O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, estará presente no IV Seminário Internacional "O Papel de Macau no Intercâmbio Sino-Luso-Brasileiro", que terá lugar neste dia 14 de novembro, pelas 18 horas, no Palácio da Independência, ao [...]
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quinta-feira, 1 de novembro de 2012
- "Conheça o Instituto Internacional da Língua Portuguesa"
(Leitores: 1.915)
A história
do Instituto Internacional da Língua Portuguesa - IILP começa, oficialmente, em
1989, quando os países de expressão portuguesa se reúnem, em São Luís do
Maranhão, para pensar as bases de uma comunidade lusófona. Naquela ocasião, a
ideia de se criar um instituto partiu do então Presidente da República do
Brasil, José Sarney e de outros dignatários presentes.
Contudo, o Instituto só se tornaria realidade dez anos depois, em 1999, na VI Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa - CPLP, que já havia se constituído em 1996. Na reunião, realizada em São Tomé e Príncipe, foram definidas as orientações para a implementação do IILP enquanto organismo promotor da língua portuguesa, aprovados os estatutos que o regem e escolhido o país de acolhida de sua sede nos primeiros anos de existência: a República de Cabo Verde. A primeira Assembleia Geral realizou-se em abril de 2002, na cidade da Praia, capital daquele país.
Os objetivos fundamentais do IILP são "a promoção, a defesa, o enriquecimento e a difusão da língua portuguesa como veículo de cultura, educação, informação e acesso ao conhecimento científico, tecnológico e de utilização oficial em fóruns internacionais".
Conforme o princípio da rotatividade estabelecido quanto ao exercício da Direção Executiva do Instituto, assumiram este mandato várias personalidades, sendo que para o biénio 2010-2012 foi eleito Gilvan Müller de Oliveira, doutor em linguística, professor universitário brasileiro, que assumiu o posto no dia 20 de outubro de 2010..
A entrada em funcionamento, recentemente, de todas as Comissões Nacionais do IILP permitiu a amplificação dos trabalhos do Instituto, e uma melhor relação com os governos dos Estados Membros da CPLP. A descentralização das atividades e a presença do IILP nos diversos países é uma estratégia interessante para o cumprimento das metas do Instituto.
Contudo, o Instituto só se tornaria realidade dez anos depois, em 1999, na VI Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa - CPLP, que já havia se constituído em 1996. Na reunião, realizada em São Tomé e Príncipe, foram definidas as orientações para a implementação do IILP enquanto organismo promotor da língua portuguesa, aprovados os estatutos que o regem e escolhido o país de acolhida de sua sede nos primeiros anos de existência: a República de Cabo Verde. A primeira Assembleia Geral realizou-se em abril de 2002, na cidade da Praia, capital daquele país.
Os objetivos fundamentais do IILP são "a promoção, a defesa, o enriquecimento e a difusão da língua portuguesa como veículo de cultura, educação, informação e acesso ao conhecimento científico, tecnológico e de utilização oficial em fóruns internacionais".
Conforme o princípio da rotatividade estabelecido quanto ao exercício da Direção Executiva do Instituto, assumiram este mandato várias personalidades, sendo que para o biénio 2010-2012 foi eleito Gilvan Müller de Oliveira, doutor em linguística, professor universitário brasileiro, que assumiu o posto no dia 20 de outubro de 2010..
A entrada em funcionamento, recentemente, de todas as Comissões Nacionais do IILP permitiu a amplificação dos trabalhos do Instituto, e uma melhor relação com os governos dos Estados Membros da CPLP. A descentralização das atividades e a presença do IILP nos diversos países é uma estratégia interessante para o cumprimento das metas do Instituto.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
"O porquê do português ser a nova língua dos negócios"
Imagem que ilustra a capa desta
edição da revista Monocle dedicada à 'Geração Lusofonia'
A revista internacional 'Monocle' dedica a edição de Outubro ao mundo lusófono e, passando por todos os países de língua portuguesa, propõe-se mostrar «o porquê de o português ser a nova língua do poder e dos negócios». Com o título 'Geração Lusofonia' e mais de dez artigos sobre política, economia, cultura e design em português, a última edição da revista mensal «diz 'olá' ao mundo», foca uma comunidade que «faz negócios com um ritmo único» e questiona se não será este o momento de «libertar o [seu] enorme potencial». «Sentimos que o mundo lusófono é muitas vezes ignorado pelos outros (...) e era altura de alguém reparar», disse à Lusa o editor de internacional da revista, Steve Bloomfield, que assina o artigo de abertura da edição de Outubro. Uma entrevista com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, António Patriota, uma reportagem no atelier de Álvaro Siza Vieira no Porto, um artigo sobre os portugueses que estão a trocar Lisboa por Luanda e outro sobre a arquitectura portuguesa de Maputo são apenas alguns dos temas em destaque. Nas páginas da revista há ainda espaço para questionar se não será tempo de reconhecer o potencial dos Açores, já que «Portugal não sabe o que fazer com ele», e para contar como a «melhor cortiça do mundo» fornece produtores de vinho «icónicos», designers de moda e até a NASA. Descreve a rivalidade entre Rio de Janeiro e São Paulo nas telenovelas, enumera as 20 melhores estrelas de língua portuguesa, revela o segredo dos centros comerciais de São Paulo e descreve negócios que vão das antigas conservas de peixe portuguesas às brasileiras ‘Havaianas’. «Não fomos a todos, mas escrevemos sobre cada um dos países lusófonos e ainda sobre comunidades» na diáspora, como as de Goa, Macau e França, explicou Bloomfield. Embora Portugal tenha «problemas económicos sérios» neste momento, a comunidade lusófona inclui «países que estão a crescer economicamente e onde estão a acontecer coisas fantásticas», lembrou. O jornalista, que esteve em Lisboa e visitou a sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), reconheceu que já há tentativas de juntar os países para trabalharem juntos e que «algum do trabalho da CPLP é fascinante e incrivelmente ambicioso», mas defendeu que ainda há oportunidades a explorar. «A maior vantagem que vocês têm é que toda a gente adora os brasileiros e os portugueses. Têm muita empatia [soft power], são populares em todo o mundo e podem mesmo tirar partido dessa boa vontade», afirmou. Antecipando que a comunidade poderá vir a ser muito influente no mundo, o editor aguarda com expectativa os próximos desenvolvimentos. «Vamos ver o que acontece no Brasil com o mundial e os Jogos Olímpicos - isso será uma enorme oportunidade para os outros países lusófonos se promoverem -; vamos ver o que acontece com a recuperação económica portuguesa (...) e vamos ver se Angola se torna uma verdadeira democracia aberta». No artigo de abertura, Bloomfield citou o chefe da diplomacia brasileira quando diz que «há muitas histórias positivas a sair do mundo lusófono» e deixou um desafio: «É hora de o resto do mundo começar a aprender um pouco de português».
Lusa/SOL
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
-" O « melhor recanto de Espanha » é português ! ..."
( Leitores: 1.245 )
"O Melhor Recanto de Espanha 2012" é um
monumento português. A Igreja de Santa Maria Madalena, em Olivença, arrebatou o
1.º lugar numa votação online, mas a distinção reacende as dúvidas sobre
a perda do território.
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