ALTERAÇÃO DO ENDEREÇO

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

D'AQUÉM E D'ALÉM MAR

Devido às semelhanças que existem entre este texto publicado em Moçambique e qualquer outro texto que pudesse ser publicado em Portugal, quero deixá-lo aqui registado para esclarecimento dos leitores mais jovens.

"A ciência de Deus

Ao fim destes anos todos, eu já devia estar vacinado contra este tipo de coisas, mas a verdade é que verifico que não estou.
E, de vez em quando, apanho com um murro no estômago.
O último foi quando vi, num dos nossos jornais, a foto do antigo Presidente Joaquim Chissano a receber as insígnias de Doutor, Honoris Causa, em Teologia, pela Universidade Latina de Teologia.
O leitor mais jovem vai ficar admirado com esta minha introdução. Vai perguntar por que razão me incomoda que aquele antigo dirigente tenha sido doutorado em Teologia.
Mas isto é porque os meus leitores mais jovens não viveram o período, logo a seguir à Independência nacional, em que todos os nossos dirigentes se declaravam materialistas, marxistas-leninistas.
E nessa posição ideológica Deus tinha pouco espaço, se é que tinha algum.
Recordo-me de que Samora dizia que, nas nossas forças armadas, só queria oficiais que fossem
comunistas convictos.
E não me recordo de ouvir nenhum dos seus camaradas recusar postos nessas mesmas forças armadas alegando as suas convicções religiosas. Pelo contrário, todos exibiam com garbo as suas fardas de oficiais superiores, e até oficiais generais, nesse tal exército de comunistas.
O Mundo deu as voltas que deu e a grande maioria dos tais comunistas são hoje prósperos empresários capitalistas.
Alguns foram achando que os seus casamentos revolucionários não tinham o mesmo peso que outros mais tradicionais e, discretamente, lá foram até à capela mais próxima para santificar relações já com dezenas de anos, com filhos e netos já nascidos e crescidos.
Agora sabemos que um desses dirigentes, do mais alto nível da hierarquia da época, que nos pregava a via do materialismo dialéctico para a felicidade na terra, dado que depois da morte nada mais existia, aceitou ser doutorado em Teologia, a Ciência de Deus.
E parece-me que isso é levar as coisas longe demais.
Ou Joaquim Chissano nunca foi materialista, nem marxista-leninista nem coisa parecida com isso e andou durante aqueles anos todos a fazer um enorme teatro para nos enganar a todos, a começar pelo seu chefe Samora, ou, passados uns anos, um anjo deve ter descido de uma qualquer nuvem, tocando harpa ou trombeta, para o banhar de uma luz celestial, retirando-o das trevas pecaminosas do materialismo para o fazer encontrar o caminho da verdadeira fé.
Eu, que continuo materialista e ateu, vou mais pela primeira hipótese, a do teatro. Vou mais pela incapacidade de revelar as suas verdadeiras crenças, com medo de perder as benesses do poder revolucionário da época.
E nisso não esteve sozinho, muito longe disso. A dizer a verdade só recordo o exemplo do embaixador Chafurdine Khan que nunca abdicou das suas crenças religiosas e, por isso, não teve a carreira que poderia ter tido.
Temos, portanto, a partir de agora, Joaquim Chissano a juntar-se à lista dos doutores da igreja católica. A juntar-se a S.Tomás de Aquino, ao Papa Leão I, a Santa Anastácia ou a Sto. António de Lisboa e a tantos outros.
E, se não nos pomos a pau, ainda acaba canonizado, para mal dos nossos pecados.
A única vantagem era que, à semelhança das grandes festas a Sto. António, que se fazem no popular bairro de Alfama, em Lisboa, com sardinhas, caldo verde e muito vinho, talvez passássemos a ter também as festas de Sto. Alberto Chissano, ali no Alto Maé, com matapa e sumo de caju.
Mas, falando a sério: Ninguém tem nada a ver com as crenças religiosas de cada um. É assunto pessoal, do seu foro íntimo.
Agora o que foi errado, muitíssimo errado, foi terem andado a fingir que eram coisas que não eram e terem andado a impingir-nos ideias que, lá bem no fundo, muitos nem sequer compartilhavam.
Em resumo, o mal foi terem andado a mentir-nos, da forma como andaram, durante tantos anos.

Machado da Graça

in SAVANA

sábado, 22 de novembro de 2008

...a vida passa num instante/ e um instante é muito pouco para sonhar."

Os dias são povoados
Pela raiva de sentir
Que não és livre de ti
Porque te aprisionaste
E recusaste o porvir
E, agora só me resta
fugir eu de mim também.
Fugir incessantemente
E tornar-me degredado
Recusar este fado
que me estava destinado.

Quisera eu aprisionar-te
sem nunca te poder ter.
Ao ter-te, não te teria.
como não te tenho agora,
nem nunca terei um dia.

Não és livre de sentir.
E apenas nos unimos
Na desunião,
que nos completa.
Apenas nos encontramos
no espaço
Entre dois silêncios.
O teu e o meu,
E calados
Desejamos
Nunca ter sido assim.

Maria João Nunes
in «http://aarrobadaspalavras.blogspot.com»

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

DECASSÍLABOS COM OS NONATOS


1. Não existe governo que controle
Os cabeças do crime organizado
O governo cedeu nao sei porque
Aos direitos humanos o direito
Imoral é a falta de respeito
No que pede os chefões do PCC
Uma cela com freezer e com tv
E ambiente com ar refrigerado
No almoço um cardápio variado
De escargot, caviar e rocambole
Não existe um governo que controle
Os cabeças do crime organizado
(Raimundo Nonato)

2. O Brasil dos anões do orçamento
É o mesmo que paga o mensalão

No país um escândalo à tona veio
Provocou demissões, causou renuncias
Numa guerra com bombas de denuncias
Que o comando petista está no meio
Estatais com esquema de rateio
Diretor acusado de estorção
E em Brasília se for matar ladrão
Só escapa um ou dois do parlamento
O Brasil dos anões do orçamento
É o mesmo que paga o mensalão
(Nonato Costa)

3. Deputados por mês querem cem mil
E dão trezentos e oitenta a quem trabalha

Na proposta eles pedem cem porcento
De salário dos cofres executivo
Imagine o poder legislativo
Ter direito em votar seu próprio aumento
Dos larápios que estão no parlamento
Um conversa abobrinha outro gargalha
A justiça é corrupta, cega e falha
E eleitor um cordeiro no covil
Deputados por mês querem cem mil
E dão trezentos e oitenta a quem trabalha
(Nonato Costa)


Fonte: «culturanordestina.blogspot.com»

domingo, 16 de novembro de 2008

Saudades do futuro




Saudades do futuro

Um futuro que nunca terei
Um passado que não existe
Memória que não queria
Pensar
Sequer sentir
Porque não sou presente
Apenas ponte
Entre o ontem e o amanhã
E porque o amanhã
Não existe
Caminho não sei para onde
E o caminhar faz-se
No entanto
De pequenos nadas
Que são parte de um tudo
Que não sei onde começa
Que não sei onde acaba
Apenas saudades
De um futuro
Já perdido à partida

Maria João Nunes

E SE OBAMA FOSSE AFRICANO ?

Há tempos um amigo perguntou-me qual a utilidade dos blogues. Neste clarividente texto encontra-se a resposta.

"Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África. Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos. Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo. Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto. E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana? 1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular. 2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia. 3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor. 4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?). 5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos. 6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores. Inconclusivas conclusões Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte. Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos. A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa. Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público. No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo. Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia."

Jornal "SAVANA" – 14 de Novembro de 2008
Publicada por Ana Margarida Esteves no blogue "Nova Águia"

sábado, 15 de novembro de 2008

O NÚCLEO DO PORTO da Liga dos Combatentes

( continuação )

No texto publicado em 6 do corrente fazia-se referência ao magnífico edifício onde o Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes está instalado. É um edifício cuja fachada principal é quase todo de cantaria de granito que hoje não mostra as barbaridades que ao longo dos anos lhe foram feitas.




quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O MASSACRE DE SANTA CRUZ

No dia 12 de Novembro de 1991,precisamente há 17 anos,deu-se o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli.
Recordar, transcrevendo o relato dessa atrocidade cometida contra o reduto da Lusofonia no Extremo-Oriente, é o mínimo que nós, lusófonos, podemos fazer.
“ À chegada às portas do cemitério... alguns dos manifestantes subiram para cima do muro, exibiram os cartazes aos jornalistas e depois ficaram ali todos, quase sem saber o que fazer.
... Um camião do exército apareceu ao fundo da rua... Do interior começaram a saltar soldados vestidos de verde e com tiras vermelhas no capacete.
... Do lado direito apareceram mais soldados, estes com uniformes castanho-escuros e com as M16 em posição de fogo.
... Começaram as rajadas cerradas. Os timorenses das primeiras filas tombaram logo ali, os outros voltaram as costas num pânico de fuga e começaram igualmente a cair.
...Os corpos rolavam na rua... As armas calaram-se ao fim de um bom bocado...
No ar ergeu-se o coro da multidão refugiada no cemitério, a rezar Avé Maria em português."

In: “A Ilha das Trevas” de José Rodrigues dos Santos

quinta-feira, 6 de novembro de 2008


NÚCLEO DO PORTO
DA
LIGA DOS COMBATENTES


O Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes está instalado num magnífico edifício mandado construir, nos começos da segunda metade do Século XIX, pelo 1º Visconde de Pereira Machado para sua residência.
Situado no ângulo sudoeste das Ruas Formosa e da Alegria , é uma construção grandiosa que marcou uma época de desenvolvimento económico da cidade do Porto.
A fachada principal, quase toda de cantaria de granito e encimada por um frontão com o brasão dos Pereira Machado, denota uma harmonia e equilibrio arquitectónicos notáveis. Aparentando, pela fachada principal, possuir apenas dois pisos, na realidade é composto por três pisos.
A entrada de honra é feita pela Rua Formosa, através dum átrio com aspecto austero mas muito harmonioso

Originariamente, no piso térreo situavam-se os serviços do “palácio”, com cozinha, sala de refeições, economato e salas que se presume terem sido destinadas a alojamento de hóspedes da família.
O acesso ao 2º piso é feito por uma escadaria de granito, cuja galeria é considerada, pelo extraordinário trabalho decorativo em gesso, a mais importante da cidade do Porto.


No 2º piso situava-se o andar nobre, com salas cujos tectos artisticamente trabalhados em gesso, apresentam, ainda hoje depois de recuperados, motivos de caça, de música, etc. De entre todas, destaca-se o “salão nobre”, hoje sala principal do Museu.

No 3º piso situavam-se os aposentos da família e uma pequena capela ou oratório.
Fazendo parte da propriedade, no terreno anexo ( hoje silo-auto e supermercado ) existiam as cavalariças, cocheiras e picadeiro.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Na torre sineira
O relógio batia as horas
No meu cinzeiro
Batiam as beatas mortas
Enquanto outras beatas
Pelas trindades corriam
A bater nas outras portas

De lenços negros e xailes
Traçados no coração
Esfumando os caminhos
Cegas e sem razão
Endoidecendo na dor
Pela perda do batel
Onde ia o Zé Capitão
Arrastou consigo
Ao mar, sangue
Suor e lágrimas
Deixando mortas
Exangues
Nos corações apátridas.
E na torre sineira,
O Sino dobra…..triste………
Enovelado no fumo
Da beata que jaz morta
Maria João Nunes
Publicado no blogue "A Arroba das Palavras"

sábado, 25 de outubro de 2008

A 5ª COLUNA DA LUSOFONIA

A 5ª coluna da lusofonia é, indubitavelmente, a Comunicação Social.Com os seus órgãos e os seus agentes, a Comunicação Social, salvo raras e honrosas excepções, é um factor de clivagem dentro das sociedades lusófonas e entre uns e outros. Ela actua em todos os sectores, desde a Literatura à Televisão, passando pela Imprensa e pela Rádio.Actuando de forma consciente uns, por seguidismo outros, os elementos desta 5ª coluna movimentam-se, principalmente, nos dois Países que mais responsabilidade têm na preservação da Lusofonia.O modo de actuar é bem insidioso, assumindo a forma de afirmações, insinuações e um mau tratamento despudorado da Língua. Despudorado, porque ao mau tratamento que se dá à Língua, embora a maioria o faça por ignorância e má formação profissional, os responsáveis com boa formação assistem impávidos aos erros que se cometem. Não me acredito que eles não detectem o erro quando um jornalista começa uma oração no pretérito perfeito e a termina no presente-do-indicativo; ou que substitua o condicional pelo indicativo ou que deixe de usar os verbos no futuro.Sei que alguns “democratas” irão dizer que isso são alterações que a Língua vai sofrendo e que são um sinal de vitalidade. Se isso é vitalidade, prefiro, então, a modorra das terras do interior onde ainda consigo ouvir português bem falado.Na realidade, para ouvir um português bem falado não tenho necessidade de me refugiar no interior de Portugal. Posso fazê-lo sempre que vou ao Brasil porque, doa a quem doer, no Brasil fala-se português melhor do que em Portugal. Estou a referir-me, logicamente, à classe média que é onde a Língua faz escola, na falta imperdoável e ridícula duma instituição que a normalize. Agora, que houve o Acordo Ortográfico, será uma boa altura para colmatar essa brecha, até porque a falta dele deixa de ser desculpa.
Os exemplos são infindáveis, mas irei mencionar apenas alguns que tiveram como palco da tragédia instituições que prestam Serviço Público ou que, pelo menos, deveriam prestar. Basta debruçarmo-nos sobre a RDP e a RTP.
Na RDP, temos a realizadora Madalena Balsa que apresenta excelentes programas mas que ao entrevistar uma escritora portuguesa que reside no estrangeiro e escreve em inglês, lamentou ela não ter sido traduzida “própriamente para português, foi traduzida para brasileiro”!...;
-temos a realizadora Ana Aranha, que além de nos presentear com alguns excelentes trabalhos, há pouco tempo nos apresentou um programa no aniversário da queda da cadeira de Salazar, para o qual convidou só figuras de “esquerda” e onde o Snr.Fernando Rosas, com a falta de isenção que lhe é habitual, afirmou que quando se deu o 25 de Abril Portugal tinha a guerra em África perdida. Ora, qualquer pessoa razoavelmente informada sabe que isso não é verdade. Para fazer essa afirmação tão peremptória será que ele esteve lá ou será que assistiu aos noticiários em Argel ou refúgios semelhantes?;
- temos os locutores, quase sem excepção, a dizerem Flórida em vez de Florida ( por coerência deveriam dizer New York e London em vez de Nova Iorque e Londres).
Na RTP, temos o Snr. Júlio Isidro a mencionar as letras das canções em “brasileiro”, temos o Snr. Francisco José Viegas a dizer, de Manaus, que “não há dúvida que aqui fala-se outra Língua” e, para fechar com chave-de-ouro, registo a “brilhante” e “educativa” actuação, neste palco de desgraças, do autor do programa “Cuidado com a Língua” (mais propriamente se deveria chamar Cuidado com o Autor) que, no programa da semana passada, ao dissertar sobre o vocábulo Cuba teve a ideia peregrina de afirmar que Colon deu á ilha de Cuba este nome porque era o nome que os indígenas usavam.
Mas o fenómeno, como acima disse, é comum a ambos os lados do Atlântico. Para as Rádios e Televisões do Brasil, é como se Portugal não existisse. Não transmitem música portuguesa, não exibem programas portugueses e quase parece que evitam falar de Portugal. Visto as Televisões estarem dominadas por descendentes de italianos este posicionamento não me surpreende. Temos bem perto de nós o exemplo da TV Record.
O que é isto, meus senhores?!...Isto não é só ignorância; é a forma típica de actuação de uma 5ªcoluna

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Corpo sem memória

Todos os meus versos começam em ti
Para acabarem em secreto esquecimento
Num chão de folhas caídasMadeira outrora reflorida
Com pomos vermelhos de cristal
Sepultados no ventre da terra
Onde bate o coração do silêncio
Onde te vou perdendo
Seremos apenas saudade
Entre nós a distância do brilho
Das estrelas
Velas mirrando nas
Madrugadas sentidas
Vigilantes apenas os espelhos
Que me atiram para dentro de mim
Perdida em becos quotidianos
E os olhos morrendo
Na busca incessante
do corpo sem memória.

Maria João Nunes

Publicada no blogue "A Arroba das Palavras"
Fiel amigo

Em conversa descontraída, troca de palavras e confidências, alguém me chamou a atenção para uma situação rotineira. Contudo, descobri que, apesar da rotina apresentava-se como um factor importante...Afinal de que estará ela a falar??
Bem ... - estou a falar de algo que quase todos tem em casa!Descobri, pasmada, que ele é o meu melhor amigo! Fascinada por tal constactação deixo-vos aqui os factos:
Quando chego a casa , lá está ele sempre fiel, esperando-me com o seu ar macio e tentador...
Como é bom deitar-me em cima ....nem reclama com o meu peso, antes pelo contrário, adapta-se ao meu corpo , num formato ergonómico que muito me delicia.
É companheiro amigo nas noites de chuva, atentamente envolve-me quando assisto a um filme e posso chorar no seu ombro, agarrar-me às suas costas, de imediato sinto-me a pessoa mais confortavel e protegida deste mundo ( no outro ainda não experimentei)!
Se rio, se choro, se resmungo, ele deixa-me aninhar nos seus braços, discreto com as conversas que tenho, mesmo ali....em cima dele, nada revelando , tem um poder de discrição enorme.
Poderia ficar aqui momentos esquecidos a falar-vos dele...
Mas...ali está convidativo e tentador a chamar-me- já são horas do aconchego - diz (piscando o olho).
Deixo-vos.... e vou refastelar-me no meu sofá!!!

Maria João Nunes

Publicada no blogue "A Arroba das Palavras"

domingo, 19 de outubro de 2008

ACERCA DA PETIÇÃO PARA REGRESSO DOS MORTOS EM COMBATE

Eis um resumo dos comentários que têm acompanhado as assinatura na referida petição.
A maioria dos ex-combatentes o lerá com as lágrimas nos olhos mas sentindo estar a prestar homenagem aos seus camaradas falecidos.

- Nenhum homem fica para trás!!!

- "Se serviste a Pátria e ela te foi ingrata, tu fizeste o que devias, ela o que costuma."
( Padre António Vieira).

- Já cá deviam estar à muito tempo -É o mínimo que podemos fazer pelos que foram deixados para trás - Que a consciência dos vivos respeite a memória dos mortos - Não os esquecemos e a Pátria tambem não.Só os politicos têm fraca memória. - Era uma obrigação do Governo.
Eu pensei que todos regressaram a Portugal!!!
- Em França, nos cemitérios onde estão enterrados os combatentes da I GM está escrito num
muro, tal como nas unidades da Legião Estrangeira: "Eles são filhos da França não pelo sangue doado, mas pelo sangue derramado.” E mantém os cemitérios num estado de conservação extraordinário. Por cá, essa súcia de "heróis" que fugiu ao dever de camaradagem para com os jovens da sua geração, hoje não pode sentir a sua falta nem o que palavras como honra, valor, abnegação, espírito de sacrifício, solidariedade e destemor físico valem, porque vergonhosamente e cobardemente lhe viraram as costas. - É triste ter de se recorrer a uma petição para que o Estado respeite aqueles que por ele deram a vida.Talvez fosse necessário fazer o mesmo em relação ao País. - Nunca é tarde de mais para honrar quem o merece
-É um dever a pátria honrar os seus mortos. Foi vergonhoso que Vasco Gonçalves,Mário Soares
e Almeida Santos não tivessem respeitado nem mortos nem vivos. -Vamos em frente com esta nobre missão nacional. -O que fizeram pela solução do problema os Militares do 25 de Abril e os governos que se lheseguiram, até ao actual? Apenas desonra, desrespeito, esquecimento e abandono. -Que terra esta...que seus abnegados Filhos renega..!?
-Acho de inteira justiça que os que cai­ram pela Pátria ,repousem o sono eterno na Pátria. Muito baixo está o Paí­s que abandona os seus filhos. -Também sou ex-combatente do Ultramar e ainda hoje guardo a memória dos meus camaradas caídos em combate. HAJA RESPEITO
- Queremos os nossos herois perto da familia para finalmente repousarem em paz! - Já deviam cá estar todos todos os que lá ficaram!!! - Nunca é tarde para reparar uma injustiça
- É obrigação de qualquer Estado, no mínimo, entregar os mortos em combate à família.
- Honrar os que tombaram defendendo a Pátria é um dever! ... Dar-lhes sepultura digna é mais
que obrigação! - Seja feita justiça aos Combatentes que morreram pela Pátria. Entregar os seus corpos aos familiares é o mínimo que se possa fazer em sua honra. - Quem esquece os que tombaram em sua defesa também não respeita os seus vivos. - Uma vergonha este abandono dos nossos combatentes. - Acção meritória.Pena que os governos portugueses nada tivessem feito até agora! - Os familiares precisam de ter os seus mortos junto de si, é como uma parte do seu corpo que lhes pertence e que ao recuperá-la os tranquiliza. - Inteira justiça para um desprezo inqualificavel. - Da mais elementar justiça, que, quem deu a vida pelo país, tenha o reconhecimento dos seus cidadãos.
- Que o país, sem complexos, saiba honrar quem por ele deu a vida! - Nunca fui militar, mas são os que merecem o respeito de todos nós! -É um dever do militar servir a Pátria. è um dever da Pátria estimar o Combatente. - Porque sou também um ex-combatente, felizmente Vivo!
- Depois de tanto desprezo e até humilhação e chacota, por parte dos governos do após 25
de Abril, rogo que no mínimo para um País dito civilizado, deem seguimento a esta justa causa.
- UMA ATITUDE LOUVAVEL E MERECIDA PARA COM OS NOSSOS CAMARADAS MORTOS
E DEIXADOS PARA TRAZ PELOS GOVERNOS DE ENTAO A ESTA DATA, PARA MIM UMA
VERGONHA QUE EM NADA SE PODE COMPARAR AO CARINHO COM QUE O CANADA
TRATA OS SEUS MILITARES E FAMILIAS.

NOTA: os textos foram transcritos conforme foram publicado, sem quaisquer alterações.
PETIÇÃO PARA RESGATE para Portugal dos militares mortos na Guerra do Ultramar / Guerra Colonial

Exmo. Sr. Presidente da Assembleia da República Portuguesa!
As cidadãs e cidadãos abaixo assinados pretendem que o Estado Português cumpra o dever patriótico de trasladar para Portugal – para as suas terras de origem, de onde partiram para a Guerra do Ultramar / Guerra Colonial - os restos mortais dos Combatentes que morreram ao serviço da Pátria e ficaram enterrados em campas espalhadas pelos antigos territórios ultramarinos.
Assim, e ao abrigo do Decreto-Lei nº. 43/90, de 10 de Agosto, com as alterações que lhe foram introduzidas pela Lei nº. 6/93, de 1 de Março, pela Lei nº 15/2003, de 4 de Junho e pela Lei nº. 45/2007 de 24 de Agosto, subscrevemos o requerimento, proposto pelo "Movimento Cívico de Antigos Combatentes", a enviar à Assembleia da República para:
1 – Que seja decretada a trasladação para Portugal dos restos mortais dos militares mortos e abandonados em terras africanas, em cumprimento do mais elementar desígnio das nações civilizadas e para dignificar a memória dos que morreram ao serviço da Pátria.
Leia desenvolvimento e assine em: http://www.petitiononline.com/mcac/petition.html

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

8 DE OUTUBRO - Dia do Nordestino


O Nordestino é originário das misturas de diversos povos: o branco, representado pelo colonizador português, os invasores estrangeiros e imigrantes diversos; o índio, povo nativo da região, que faziam parte de diversas tribos; e o negro africano, trazido na condição de escravo para trabalhar nas lavouras canavieiras, na industrialização do açúcar, nas fazendas e nas mais diversas atividades braçais. Essa miscigenação fez surgir os mestiços, resultados da união de raças diferentes, dando origem a três variedades: o mulato (preto + branco), o caboclo(branco+ índio) e o cafuzo (índio+preto).
O resultado da mistura de todos esses povos, aliados às características da terra, do clima e às condicionantes econômicas, acabou formando a população nordestina atual e conferindo a ela um sentido de luta e o desejo e a certeza de vencer.Apesar, muitas vezes, das adversidades do tempo e da terra, o nordestino conserva os costumes, tradições e história, através do artesanato, artes plásticas, arquitetura, música e preservação dos seus monumentos históricos. É visível seu apego às tradições mais remotas e a um folclore belíssimo e bastante variado, de acordo com os contrastes existentes nos vários Estados da região Nordeste.

Ele jamais esquece a terra onde nasceu. Às vezes, devido às adversidades do tempo ou a situações econômicas desfavoráveis, são obrigados a emigrar para outras regiões do país. Mas sempre que podem e as condições de vida mudam, voltam para os seus familiares e amigos e para a "terra querida".
Alguns tipos de pessoas são muito comuns no nordeste. Os mais conhecidos nacionalmente de acordo com as habilidades adquiridas são: os sertanejos, os vaqueiros, os repentistas e os jangadeiros.
O sertanejo é exemplo de bravura e possui uma das mais expressivas culturas artesanais do país. Está sempre preocupado com a seca, uma vez que, com maior ou menor intensidade, ela sempre ocorre. É conhecido como trabalhador, amigo sincero e leal, respeitador, mas é também um homem destemido, que "não leva desaforo prá casa". É conhecido como "cabra macho" e é a representação imediata da coragem, força e resistência. Sua valentia é contada em prosa e verso. Os vaqueiros são trabalhadores que, montados em seu cavalo, cuidam do gado. Para protegerem-se dos arbustos e espinhos da vegetação local usam uma vestimenta característica: chapéu de couro, gibão de couro curtido, calças-perneiras justas e luvas.
Os violeiros ou repentistas são cantadores de viola que têm muita habilidade para compor versos de improviso. São muito respeitados e admirados em todo o Estado. Algumas de suas cantorias são verdadeiras obras primas de nossa literatura.
Os Jangadeiros são trabalhadores típicos do litoral. Passam a maior parte do tempo em alto mar à procura do peixe, que serve de alimento para a família e é a fonte de renda para o seu sustento. Geralmente moram em casas simples, construídas perto da praia.

Mas o nordeste também é povoado de outras pessoas típicas, como as rendeiras, os agricultores, os "coronéis" (em extinção), os beatos, os retirantes, os matutos, os canavieiros, etc . São ainda nordestinas algumas figuras das mais expressivas tais como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Gilberto Freire, Manuel Bandeira, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, José de Alencar, Jorge Amado, Ariano Suassuna, Luiz da Câmara Cascudo, Luiz Gonzaga, Fagner, Zé Ramalho, Caetano Veloso, Elba Ramalho, Chico César, André Vidal de Negreiros, Augusto dos Anjos, José Américo de Almeida, Raquel de Queiroz, Celso Furtado, João Cabral de Melo Neto, Zé da Luz, Patativa do Assaré, Sivuca, Capiba, Jessier Quirino e muitos outros expoentes que enriquecem ou enriqueceram o cenário brasileiro e, até, internacional.
Enfim, "o nordestino é, antes de tudo, um forte", já dizia Euclides da Cunha. Mas faltou também dizer que é um povo resistente, que vence todo tipo de dificuldade, faz piadas e ri, muitas vezes, de sua própria desgraça, mas não se entrega. Também é mulherengo e não rejeita uma boa dose de cachaça. Continua compondo suas canções e tudo é motivo de festas. As oportunidades, aliás, não faltam. Festas quando as chuvas caem no sertão, trazendo fartura e prenúncio de dias melhores; festas nos rituais de cantorias nas safras; festas nas celebrações de noivado e casamentos nas roças; festas de padroeiras, etc. Até dia de eleição é motivo de festa.

Autor: Marcos França
Cultura Nordestina «www.culturapopular.com.br»

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O EXEMPLO DO REI DO CONGO

JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
Participei recentemente num encontro sobre a situação da língua portuguesa no mundo, que decorreu em Bruxelas, nas instalações do Parlamento Europeu. O encontro organizado pelo eurodeputado português José Ribeiro e Castro contou com a presença de dois dos mais entusiastas divulgadores das culturas lusófonas nos países baixos: Eddy Stols, professor catedrático da Universidade de Lovaina, e Harrie Lemmens, o tradutor para neerlandês de José Saramago, Lobo Antunes, Eça de Queirós, Mia Couto, João Ubaldo Ribeiro e tantos outros.
Na sua intervenção Lemmens recordou os esforços do Rei do Congo, Dom Afonso, para promover o ensino do Português nos seus domínios:
"No dia 25 de Agosto de 1526, Dom Afonso fez novamente um apelo a el-rei, agora Dom João III, para lhe mandar mais professores (a carta mostra o valor que o rei congolês dava ao ensino e a modéstia com que pede ajuda): 'Senhor, temos muita necessidade de três ou quatro bons mestres de gramáticas, para acabarem de confirmar nossa gente, aqueles que já nisso são principados; porque para ensinar a ler e escrever muitos temos, vossos naturais e nossos, que o sabem e fazem, mas para lhes mostrar e declarar as coisas da santa fé e explanar os casos duvidosos que os outros homens geralmente não sabem, o que é muito necessário.' Ficou três anos sem receber resposta. Só numa carta de 1529 el-rei Dom João III, além de tentar convencer mais uma vez o colega congolês que devia abrir o seu país ao comércio, pois era o que todos os países modernos faziam (a globalização!), louvou a maneira como se dava aulas às crianças no reino de Dom Afonso, 'noite e dia', nas suas palavras. Até a própria rainha se ocupava das raparigas. Na mesma carta, porém, escreveu que não queria mandar mais do que quatro professores, porque no Congo havia pessoas suficientes capazes de fazê-lo. Como vêem, aproveitou a modéstia de Dom Afonso para reduzir as despesas."
À data da independência de Angola, mais de quatrocentos anos depois, ainda os apelos de Dom Afonso não tinham sido completamente atendidos.De então para cá muita coisa mudou. Em trinta anos de independência o governo angolano fez mais pela afirmação da língua portuguesa - quer de forma deliberada quer inadvertidamente - do que todos os anteriores governos coloniais. O triunfo militar sobre a UNITA, e agora o seu esmagamento nas urnas, assinalam também a vitória definitiva da língua portuguesa e do projecto cultural que nela se exprime. É parte, talvez, daquilo que alguns intelectuais na oposição, como o activista cívico Luís Araújo, chamam endocolonialismo. Importa reconhecer, contudo, que muitos outros países, por exemplo nas Américas, se construíram sobre modelos semelhantes.
Para além do futuro incerto das línguas africanas de Angola, este triunfo absoluto implica uma outra ameaça de que quase não se fala.Devido à fragilidade do sistema de ensino básico a maioria das crianças angolanas estão a trocar a língua materna dos seus progenitores por um idioma empobrecido. Dito de outra forma, os pais dos milhões de crianças angolanas que hoje só se comunicam em português serviam-se de um quimbundo, de um umbundo ou de um quicongo mais rico do que aquele português que os seus filhos hoje falam.Esta erosão de pensamento, pois perder palavras é perder pensamento, da mesma forma que perder línguas é perder mundos, só poderá ser corrigida com um fortíssimo investimento no ensino do idioma português.
Espero que os dirigentes angolanos saibam seguir o exemplo do rei congolês, Dom Afonso, e que comecem a procurar desde já professores de língua portuguesa, e formadores de professores, onde quer que eles existam, seja em Portugal ou no Brasil.
Espero, por outro lado, que os dirigentes portugueses não sigam o exemplo de Dom João III, e saibam corresponder a tais expectativas.
Fonte:Revista Pública

domingo, 5 de outubro de 2008

Portugal ratifica acordos de cooperação militar com o Brasil

O Governo português decidiu hoje ratificar o acordo de cooperação com o Brasil no domínio da defesa.O acordo foi assinado no Porto em Outubro de 2005 e prevê a colaboração dos dois países nos domínios da pesquisa, aquisição de produtos, serviços e apoio logístico.
Este acordo entre Portugal e o Brasil pretende ainda aumentar a partilha de conhecimentos e experiências adquiridos nos campos de operações, utilização de equipamentos militares de origem nacional e estrangeira no cumprimento de operações internacionais de manutenção de paz e nas áreas da ciência e tecnologia."A cooperação desenvolver-se-á através de visitas mútuas de delegações de alto nível a entidades civis e militares; reuniões de pessoal, técnicas e entre instituições de defesa equivalentes; e intercâmbio de instrutores e estudantes de instituições militares", lê-se no comunicado do Conselho De Ministros.O Governo adianta ainda que a cooperação far-se-á através da participação em cursos ou estágios, eventos culturais e desportivos, assim como por via de uma "facilitação das iniciativas comerciais em assuntos de defesa".
Fonte: Jornal de Notícias
ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Sessom Inaugural da Academia Galega da Língua Portuguesa no dia 6 de Outubro.
Evento contará com representantes do Brasil, Portugal e Moçambique, além da própria Galiza.
Após a constituiçom formal no passado dia 20 de Setembro da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) e a eleiçom da sua primeira Comissom Executiva, cujo presidente é o catedrático José-Martinho Montero Santalha, a instituiçom académica apresentará-se publicamente em Santiago de Compostela no dia 6 de Outubro, com a Sessom Inaugural das suas actividades.
Um instrumento para o trabalho é o reconhecimento da Galiza lusófona.
A AGLP é uma entidade privada que se define como «instituição científica e cultural ao serviço do Povo galego», pretende «Promover o estudo da Língua da Galiza para que o processo da sua normalizaçãoe naturalização seja congruente com os usos que vigoram no conjunto da Lusofonia».No texto que faz parte do «Editorial» do primeiro número do Boletim da AGLP, da nova instituiçom académica manifestam a sua esperança em «contribuir para a construção da Comunidade lusófona da Galiza», embora «as dificuldades que acompanham as propostas, as atividades e as atuações».Dessa maneira, dizem iniciar a caminhada sabendo que podem ser «um dos fatores que contribuam a conscientizar os cidadãos da Galiza na sua condição de lusófonos, junto com os de Portugal, Brasil, Angola,Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, Timor Lorosae e todos os territórios e pessoas que se estimam unidos pela comum língua portuguesa».Ainda, assinalam os fins que se proponhem atingir como Academia: «promover o processo da normalização e naturalização do Português na Galiza de modo congruente com os usos que vigoram na Lusofonia; colaborar com outras entidades lusófonas com fins semelhantes; e assessorar os poderes públicos e quaisquer outras instituições interessadas na implementação do Português nos territórios e comunidades da Lusofonia».
Sessom inaugural com um amplo e simbólico programa de actividades(ver mais em: http://www.pglingua.org/ )
Fonte: "Nova-Águia"

sábado, 27 de setembro de 2008

SOBRE “AS VERDADES OCULTAS EM PORTUGAL”

No passado dia 23, o nosso amigo Macieluxcitânia publicou no “Nova Águia” um texto que lhe chegou de Espanha, contando que ele nos trouxesse algo de novo quanto ao passado recente, ao presente e ao futuro do nosso país.Deu-lhe o título de “As verdades ocultas em Portugal”.
Lamento discordar consigo, meu caro Macielluxcitânia.
Verdades ocultas ?... Quem não as conhece ?...São do domínio público !...
Que a nossa produtividade é a mais baixa da UE?
Que há pobreza, que a justiça não funciona, que a formação profissional é uma anedota, que os fundos públicos são mal gastos ?
Quem não sabe disso ?...

Que os vencimentos dos executivos portugueses estão ao nível, e em alguns casos até acima, dos que se praticam no resto da UE ?
Que a camada menos favorecida da população é que está a pagar a crise ?
Que as vendas de viaturas utilitárias caíram de forma estrondosa e que as de alta cilindrada não chegam para as encomendas ?
Isso, também, não é nada de novo !...
Veja o que se passa na Ilha de Tróia !... Os apartamentos mais caros, alguns de preço superior a 500 mil Euros, já foram todos vendidos. Quer um indicador melhor do que este ?
Que no Norte de Portugal há mais Ferraris por metro quadrado do que em Itália ?
Isso, também, não é novidade.

Que os dinheiros que vieram para a formação profissional desapareceram sem ter havido formação ?
Consta-lhe que alguém tenha sido condenado por desvio de fundos ?!...
Que a maioria dos profissionais liberais escamoteiam o IVA e prestam falsas declarações para o IRS, tendo o descaramento de declarar rendimentos pouco superiores ao salário mínimo nacional ?
Há alguém que desconheça isso além das autoridades fiscais deste país ?

Que o 25 de Abril veio fazer de Portugal um país de snobes ( com toda a carga que a origem e formação desta palavra trás consigo ) onde quase todos, basta terem um curso mesmo médio, querem ser tratados por “doutores” ?
Ainda há quem se lembre das “manifes” às portas dos institutos exigindo a sua classificação como ensino superior ?
Que devido à “doutorite” de que se sofre, Portugal se tornou o bobo da UE ?
Que todos os estrangeiros quem têm de vir a Portugal tratar de negócios se riem nas nossas costas ? Até os nossos vizinhos espanhóis dizem ( para serem simpáticos ) que os portugueses são “ demasiado formales “.
Na Europa só conheço outro país que sofre da mesma doença: a Áustria, onde os empregados-de-mesa ficam angustiados quando não podem tratar os clientes por “barão” ou, ao menos, por “doutor”.
Não há dúvida de que os portugueses não têm um comportamento exemplar. Mas, o que não se pode é classificá-los de estúpidos.
O seu comportamento é condicionado pela máxima generalizada de que “ só paga impostos quem é parvo ou não lhes pode fugir “.
E porquê ? A culpa será deles ?
Fiscalizações, não há ( nem convém); a justiça não funciona ( que conveniente); os maus exemplos vêm dos políticos (por isso não convém fiscalização).
Mas não tenhamos ilusões, porque a corrupção também existe em Bruxelas!.. Se assim não fosse, acham que algum comissário minimamente consciencioso mandaria fundos, uns atrás dos outros, sem controlar a sua aplicação ?
Como se pode ver, tudo o que o texto menciona já é conhecido há muito, pelo menos aqui no Norte. Isso confirma-se pelo comentário de Casimiro Ceivães ( com o qual concordo) de que o texto tem “ algumas imprecisões embora, o que não é novidade, o quadro geral seja acertado”.

Portugal visto de Espanha. AS VERDADES OCULTAS EM PORTUGAl

Caríssimos Amigos e Amigas , peço-vos desculpa deste texto que me enviaram estar em castelhano .
LISBOA, 21 sep (IPS) - Indicadores económicos y sociales periódicamentedivulgados por la Unión Europea (UE) colocan a Portugal en niveles depobreza e injusticia social inadmisibles para un país que integra desde 1986el 'club de los ricos' del continente.
Pero el golpe de gracia lo dio la evaluación de la Organización para laCooperación y el Desarrollo Económicos (OCDE): en los próximos años Portugalse distanciará aún más de los países avanzados.
La productividad más baja de la UE, la escasa innovación y vitalidad del sector empresarial, educación y formación profesional deficientes, mal uso de fondos públicos, con gastos excesivos y resultados magros son los datos señalados por el informe anual sobre Portugal de la OCDE, que reúne a 30 países industriales.A diferencia de España, Grecia e Irlanda (que hicieron también parte del'grupo de los pobres' de la UE), Portugal no supo aprovechar para sudesarrollo los cuantiosos fondos comunitarios que fluyeron sin cesar desde Bruselas durante casi dos décadas, coinciden analistas políticos yeconómicos.En 1986, Madrid y Lisboa ingresaron a la entonces Comunidad Económica Europea con índices similares de desarrollo relativo, y sólo una década atrás, Portugal ocupaba un lugar superior al de Grecia e Irlanda en el ranking de la UE. Pero en 2001, fue cómodamente superado por esos dos países, mientras España ya se ubica a poca distancia del promedio del bloque.'La convergencia de la economía portuguesa con las más avanzadas de la OCE pareció detenerse en los últimos años, dejando una brecha significativa enlos ingresos por persona', afirma la organización.En el sector privado, 'los bienes de capital no siempre se utilizan o seubican con eficacia y las nuevas tecnologías no son rápidamente adoptadas',afirma la OCDE.'La fuerza laboral portuguesa cuenta con menos educación formal que lostrabajadores de otros países de la UE, inclusive los de los nuevos miembrosde Europa central y oriental', señala el documento.Todos los análisis sobre las cifras invertidas coinciden en que el problemacentral no está en los montos, sino en los métodos para distribuirlos.Portugal gasta más que la gran mayoría de los países de la UE enremuneración de empleados públicos respecto de su producto interno bruto,pero no logra mejorar significativamente la calidad y eficiencia de losservicios.Con más profesores por cantidad de alumnos que la mayor parte de losmiembros de la OCDE, tampoco consigue dar una educación y formación profesional competitivas con el resto de los países industrializados.En los últimos 18 años, Portugal fue el país que recibió más beneficios por habitante en asistencia comunitaria. Sin embargo, tras nueve años deacercarse a los niveles de la UE, en 1995 comenzó a caer y las perspectivashoy indican mayor distancia.Dónde fueron a parar los fondos comunitarios?, es la pregunta insistente en debates televisados y en columnas de opinión de los principales periódicosdel país. La respuesta más frecuente es que el dinero engordó la billetera de quienes ya tenían más.Los números indican que Portugal es el país de la UE con mayor desigualdadsocial y con los salarios mínimos y medios más bajos del bloque, al menos hasta el 1 de mayo, cuando éste se amplió de 15 a 25 naciones.También es el país del bloque en el que los administradores de empresas públicas tienen los sueldos más altos.El argumento más frecuente de los ejecutivos indica que 'el mercado decidelos salarios'. Consultado por IPS, el ex ministro de Obras Públicas(1995-2002) y actual diputado socialista João Cravinho desmintió esta teoría. 'Son los propios administradores quienes fijan sus salarios,cargando las culpas al mercado', dijo.En las empresas privadas con participación estatal o en las estatales conaccionistas minoritarios privados, 'los ejecutivos fijan sus sueldosastronómicos (algunos llegan a los 90.000 dólares mensuales, incluyendo bonos y regalías) con la complicidad de los accionistas de referencia',explicó Cravinho.Estos mismos grandes accionistas, 'son a la vez altos ejecutivos, y todo este sistema, en el fondo, es en desmedro del pequeño accionista, que ve como una gruesa tajada de los lucros va a parar a cuentas bancarias de losdirectivos', lamentó el ex ministro.
La crisis económica que estancó el crecimiento portugués en los últimos dosaños 'está siendo pagada por las clases menos favorecidas', dijo.Esta situación de desigualdad aflora cada día con los ejemplos más variados.El último es el de la crisis del sector automotriz.Los comerciantes se quejan de una caída de casi 20 por ciento en las ventasde automóviles de baja cilindrada, con precios de entre 15.000 y 20.000dólares.Pero los representantes de marcas de lujo como Ferrari, Porsche,Lamborghini, Maserati y Lotus (vehículos que valen más de 200.000 dólares),lamentan no dar abasto a todos los pedidos, ante un aumento de 36 por ciento en la demanda. Estudios sobre la tradicional industria textil lusa, que fue una de las más modernas y de más calidad del mundo, demuestran su estancamiento, pues sus empresarios no realizaron los necesarios ajustes para actualizarla.Pero la zona norte donde se concentra el sector textil,tiene más autos Ferrari por metro cuadrado que Italia.Un ejecutivo español de la informática, Javier Felipe, dijo a IPS que según su experiencia con empresarios portugueses, éstos 'están más interesados enla imagen que proyectan que en el resultado de su trabajo'.Para muchos 'es más importante el automóvil que conducen, el tipo de tarjeta de crédito que pueden lucir al pagar una cuenta o el modelo del teléfono celular, que la eficiencia de su gestión', dijo Felipe, aclarando que hay excepciones.Todo esto va modelando una mentalidad que, a fin de cuentas, afecta aldesarrollo de un país', opinó.La evasión fiscal impune es otro aspecto que ha castrado inversiones del sector público con potenciales efectos positivos en la superación de la crisis económica y el desempleo, que este año llegó a 7,3 por ciento de la población económicamente activa.Los únicos contribuyentes a cabalidad de las arcas del Estado son los trabajadores contratados, que descuentan en la fuente laboral. En los últimos dos años, el gobierno decidió cargar la mano fiscal sobre esas cabezas, manteniendo situaciones 'obscenas' y 'escandalosas', según el economista y comentarista de televisión Antonio Pérez Metello.'En lugar de anunciar progresos en la recuperación de los impuestos de aquellos que continúan riéndose en la cara del fisco, el gobierno(conservador)decide sacar una tajada aun mayor de esos que ya pagan lo que es debido, y deja incólume la nebulosa de los fugitivos fiscales, sin coherencia ideológica, sin visión de futuro', criticó Metello.La prueba está explicada en una columna de opinión de José Vitor Malheiros,aparecida este martes en el diario Público de Lisboa, que fustiga la faltade honestidad en la declaración de impuestos de los lamados profesionales liberales.Según esos documentos entregados al fisco, médicos y dentistas declararons), los arquitectos dingresos anuales promedio de 17.680 euros (21.750 dólares), los abogados de10.864 (13.365 dólaree 9.277 (11.410 dólares) y losingenieros de 8.382 (10.310 dólares).Estos números indican que por cada seis euros que pagan al fisco, 'le robannueve a la comunidad', pues estos profesionales no dependientes deberían contribuir con 15 por ciento del total del impuesto al ingreso por trabajo singular y sólo tributan seis por ciento, dijo Malheiros.Con la devolución de impuestos al cerrar un ejercicio fiscal, éstos 'roban más de lo que pagan, como si un carnicero nos vendiese 400 gramos de bife y nos hiciese pagar un kilogramo, y existen 180.000 de estos profesionales liberales que, en promedio, nos roban 600 gramos por kilo', comentó consarcasmo.Si un país 'permite que un profesional liberal con dos casas y dos automóviles de lujo declare ingresos de 600 euros (738 dólares) por mes, año tras año, sin ser cuestionado en lo más mínimo por el fisco, y encima recibe un subsidio del Estado para ayudar a pagar el colegio privado de sus hijos,significa que el sistema no tiene ninguna moralidad', sentenció.
Publicada por Macieluxcitânia em 19:10:00 1 comentários

domingo, 21 de setembro de 2008

32 mil centenários no Japão

Há dias foi anunciado em Tóquio que no Japão existem, actualmente, 32.276 pessoas com mais de 100 anos.
A notícia lida na calma domingueira possivelmente vai suscitar exclamações do tipo “ formidável “, “ que maravilha”, “agora sim”, etc...
Sem querer perturbar os prazeres do Domingo, lanço esta questão : será mesmo assim ?...
Será que o futuro vai ser formidável, será que vai ser maravilhoso, com a esperança de vida a aumentar da forma como está a aumentar actualmente ?
Claro que pode ser maravilhoso vivermos, pelo menos, mais 25 anos do que o que poderíamos esperar. Mas, teremos condições para isso ?

Este, certamente, será um tema interessante para ser desenvolvido pelos sociólogos e pelos filósofos que frequentam este blogue.

Mas o vulgar dos mortais, depois de lhe passar a alegria de verificar que pode viver mais uns anitos, apesar dos seus raciocínios não serem muito elaborados, não poderá evitar de ficar inquieto quando no seu espírito começarem a surgir certas dúvidas.
Se as pessoas vão estar mais 25 anos a receberem pensões, como vai ser, então, com as reformas ?
Como reagirá o nosso sistema de segurança social se com uma esperança de vida de 75 anos já abanou e não nos dá nenhuma garantia de que dentro de 20 anos as pensões de reforma possam ser pagas ?
Como vai funcionar o mercado de trabalho ?
Para evitar o pagamento de pensões em prazos tão dilatados, aos governos só restará aumentar a idade da reforma.
Mas se se aumentar a idade da reforma as necessidades do mercado de trabalho irão diminuir e os jovens terão maior dificuldade em conseguir emprego.
A quantidade de pensionistas aumentará e a de desempregados também.
Como se vai conciliar estes dois vectores ?

É hora de os políticos acordarem e começarem a mostrar do que são capazes e dedicarem o tempo que hoje perdem a discutir o sexo dos anjos à estruturação do futuro dos nossos filhos.

sábado, 20 de setembro de 2008

CPLP reune Fundações em Maputo

As Fundações existentes em países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, têm-se reunido periódicamente, desde 2003, para analisarem e estabelecerem a forma de actuarem no desenvolvimento económico e social dos países envolvidos.
Já reuniram quatro vezes, as duas primeiras em Portugal, a terceira em Cabo-Verde e a quarta em Angola.

Esta semana decorreu a quinta reunião que se realizou em Maputo.
Participaram nela representantes de Fundações de Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Dos temas da reunião destacaram-se os relacionados com “ as Fundações e a eficácia da ajuda ”, “ as Fundações e a promoção dos Direitos Humanos ”, “ as Fundações e os acordos de parceria económica ”, e “ as Fundações e a promoção de laços de amizade e solidariedade entre os povos da CPLP “.
As conclusões ainda não são conhecidas, mas da reunião ressalta a afirmação do representante de Portugal, o presidente do Centro Português de Fundações, de que, indiscutívelmente, desde a primeira reunião em 2003, as acções de apoio ao desenvolvimento nos países da CPLP têm vindo a crescer, com tendência para continuarem nesse ritmo.
Ressalta, também, o reconhecimento de que os métodos de actuação terão de ser mais eficientes e que a coordenação entre as Fundações e os seus parceiros terá de ser melhorada.

Fica-nos a impressão de que as boas-vontades existem e espírito crítico também. No entanto, para podermos avaliar os resultados práticos desta reunião ficamos a aguardar a publicação das conclusões.
De qualquer modo, consideramos estas reuniões, e todas as que aproximem as instituições dos vários países que a constituem, muitos importantes para a consolidação da CPLP.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Brasil nunca pertenceu aos índios

Quem quiser se escandalizar, que se escandalize. Quero proclamar, do fundo da alma, que sinto muito orgulho de ser brasileira. Não posso aceitar a tese de que nada tenho a comemorar nestes quinhentos anos. Não agüento mais a impostura dessas suspeitíssimas ONGs estrangeiras, dessa ala atrasada da CNBB e dessas derrotadas lideranças nacional-socialista s que estão fazendo surgir no Brasil um inédito sentimento de preconceito racial.
Para começo de conversa, o mundo, naquela manhã de 22 de abril de 1500, era completamente outro. Quando a poderosa esquadra do almirante português ancorou naquele imenso território, encontrou silvícolas em plena idade da pedra lascada. Nenhum deles tinha noção de nação ou país. Não existia o Brasil.
Os atuais compêndios de história do Brasil informam, sem muita base, que a população indígena andava por volta de cinco milhões. No correr dos anos seguintes, segundo os documentos que foram conservados, foram identificadas mais de duzentos e cinqüenta tribos diferentes. Falando mais de 190 línguas diferentes. Não eram dialetos de uma mesma língua. Eram idiomas próprios, que impediam as tribos de se entenderem entre si. Portanto, Cabral não conquistou um país. Cabral não invadiu uma nação. Cabral apenas descobriu um pedaço novo do planeta Terra e, em nome do rei, dele tomou posse.
O vocabulário dos atuais compêndios não usa a palavra tribo. Eles adotam a denominação implantada por dezenas de ONGs que se espalham pela Amazônia, sustentadas misteriosamente por países europeus. Só se fala em nações indígenas.Existe uma intenção solerte e venenosas por trás disso. Segundo alguns integrantes dessas ONGs, ligados à ONU, essas nações deveriam ter assento nas assembléias mundiais, de forma independente. Dá para entender, não? É o olho na nossa Amazônia. Se o Brasil aceitar a idéia de que, dentro dele, existem outras nações, lá se foi a nossa unidade.
Nos debates da Constituinte de 88, eles bem que tentaram, de forma ardilosa, fazer a troca das palavras. Mas ninguém estava dormindo de touca e a Carta Magna ficou com a palavra tribo. Nação, só a brasileira.
De repente, os festejos dos 500 anos do Descobrimento viraram um pedido de desculpas aos índios. Viraram um ato de guerra. Viraram a invasão de um país. Viraram a conquista de uma nação. Viraram a perda de uma grande civilização.
De repente, somos todos levados a ficar constrangidos. Coitadinhos dos índios! Que maldade! Que absurdo, esse negócio de sair pelos mares, descobrindo novas terras e novas gentes. Pela visão da CNBB, da CUT, do MST, dos nacional-socialista s e das ONGs européias, naquela tarde radiosa de abril teve início uma verdadeira catástrofe.
Um grupo de brancos teve a audácia de atravessar os mares e se instalar por aqui.
Teve e audácia de acreditar que irradiava a fé cristã.
Teve a audácia de querer ensinar a plantar e a colher.Teve a audácia de ensinar que não se deve fazer churrasco dos seus semelhantes.
Teve a audácia de garantir a vida de aleijados e idosos.
Teve a audácia de ensinar a cantar e a escrever.Teve a audácia de pregar a paz e a bondade. Teve a audácia de evangelizar.
Mais tarde, vieram os negros. Depois, levas e levas de europeus e orientais. Graças a eles somos hoje uma nação grande, livre, alegre, aberta para o mundo, paraíso da mestiçagem. Ninguém, em nosso país pode sofrer discriminação por motivo de raça ou credo.
Portanto, vamos parar com essa paranóia de discriminar em favor dos índios. Para o Brasil, o índio é tão brasileiro quanto o negro, o mulato, o branco e o amarelo. Nas nossas veias correm todos esses sangues. Não somos uma nação indígena. Somos a nação brasileira.
Não sinto qualquer obrigação de pedir desculpas aos índios, nas festas do Descobrimento.
Muitos índios hoje andam de avião, usam óculos, são donos de sesmarias, possuem estações de rádio e TV e até COBRAM pedágio para estradas que passam em suas magníficas reservas. De bigode e celular na mão, eles negociam madeira no exterior. Esses índios são cidadãos brasileiros, nem melhores nem piores. Uns são pobres. Outros são ricos. Todos têm, como nós, os mesmos direitos e deveres. Se começarem a querer ter mais direitos do que deveres, isso tem que acabar.O Brasil é nosso. Não é dos índios. Nunca foi.

*Sandra Martins Cavalcanti de Albuquerque (Belém, 30 de agosto de 1927) é uma política brasileira. Maio de 2008

Nota: este artigo foi escrito aquando das comemorações dos 500 anos da descoberta do Brasil ;
de vez em quando, é bom recordar.
JOVEM GUARDA

Este vídeo, criado por dois entusiastas da Lusofonia, é dedicado, por mim, à Ana Margarida e ao Marcos França, com um grande abraço.


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

COMBATENTES MOÇAMBICANOS E PORTUGUESES

No passado dia 7, foi celebrado na cidade do Maputo ( antiga Lourenço Marques ) o 34º aniversário da assinatura dos acordos de Lusaka ( de triste memória e vergonha do então MFA ) que puseram fim à guerra colonial em Moçambique.
Não nos esqueçamos, que foi nestes acordos que se gerou o foco que daria origem à guerra civil que tantos milhares de vítimas causou. Não sei o que houve para comemorar ?!...
Nesse dia, a Liga dos Combatentes, representada pelo seu vice-presidente, assinou com a sua congénere moçambicana, a Associação de Combatentes de Libertação Nacional ( ACLLN ), um memorando de entendimento com o objectivo de realizarem actividades em conjunto e promoverem a troca de informações. O ensino, a cultura e a solidariedade social, serão áreas preferenciais no âmbito deste “entendimento”.
Por outro lado, o Ministério para os Assuntos dos Antigos Combatentes (Portugal nunca achou necessário ter algo semelhante) pretende coligir dados sobre a guerra em Moçambique.
Para bem da CPLP, seria bom a Liga dos Combatentes procurar, de alguma forma, intervir de molde a moderar a tendência que todos os Estados têm de transformar o antigo inimigo num monstro a odiar.
Desse modo, prestaria mais um inestimável serviço à CPLP.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O Plantador de Milho
Não resisto a transcrever esta joia da Cultura Popular brasileira publicada no blogue CULTURA NORDESTINA do nosso amigo Marcos França.
Aconselho, vivamente, todos os que se interessam por cultura popular a visitarem este blogue no endereço http://www.culturanordestina.blogspot.com/

Sou eu caboclo da roça
Criado dentro da mata
Nunca calcei um sapato
Nunca usei uma gravata
Moro perto da cidade
Mas pra falar a verdade
Só vou lá de feira em feira
Ou quando há precisão
De batizar um pagão
Ou buscar uma parteira
No dia que registrei
O meu filhinho mais novo
O juiz estava nervoso
Brigando no meio do povo
Me chamou de maltrapilho
Sujo, plantador de milho
E disse mais uma piada
Dessas que a boca não cabe:
Matuto pobre só sabe
Fazer menino e mais nada.
O juiz não tinha filhos
Que enfeitassem sua vida
Eu conhecia a história
E fui direto na "ferida":
O senhor está zangado,
Tem dez anos de casado
E a mulher não tem um filho;
A sua comida fina
Não contém a vitamina
Que há na massa do milho.
A minha família é grande
Dez filhos e a mulher.
Sua família é pequena
Mas é porque você quer.
A sua mulher lhe embroma
Quase todo dia toma
Anticoncepcional
Lhe vicia em novela
Dorme tarde e faz tabela
E esquece do "principal".
Ouvi o senhor dizer
Que está gastando por mês
Mas de dez salários mínimos
Só com perfume francês
Diz que a vida é uma bomba
Que foi não foi leva tromba
Com mercadoria falsa
Comprar perfume estrangeiro
É pra quem possui dinheiro
Nos quatro bolsos da calça
Caro doutor, lá em casa
Ninguém nem conversa em luxo
A fora uma simples roupa,
O resto é encher o bucho
Não acostumei meu povo
Exigir sapato novo
Para as festas de São João
Ao invés de um colar de ouro
Compro a rabada de um touro
Pra se comer um pirão.
Lá ninguém fala em perfume,
O que há na minha casa
É cheiro de carne assada
Pingando em cima da brasa
Minha cabocla Maria,
Gorda,disposta e sadia,
Pra toda vez que eu quiser
Botar fogo na geléia
Para isso a minha "véia"
É mulher, sendo mulher.
Como, é galinha caipira
E não galeto de granja
Ao invés de coca-cola
Tomo suco de laranja
Com rapadura de mel.
E escute aqui, bacharel,
Conversa longa me atrasa.
Quer ver a mulher Ter filho?
Bote um plantador de milho
Pra dormir na sua casa.

Autor: Daudeth Bandeira

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

AINDA SOBRE “O QUINTO IMPÉRIO E A CPLP”

Para mal dos meus pecados, este meu espírito irrequieto não me deixa em paz. Quando lê um texto sobre este tema fica numa roda-viva !
Delicia-se com os textos filosóficos tão bem elaborados; admira as ideias tão bem arquitectadas; lê-os com ansiedade, mas chega ao fim com a sensação de ter tido uma refeição requintada mas que não satisfez as suas necessidades energéticas.
E aqui, insidioso, pergunta-me sempre :
-“ Bem !...destes textos tão bonitos o que é que se pode pôr em prática ?
( É um espírito pragmático !...)
Para ser sincero eu fico um pouco comprometido, porque não sei bem o que lhe hei-de responder. Falou-se sobre Vieira, falou-se sobre Pessoa, falou-se sobre Agostinho, mas sobre a CPLP pouco se falou.
Em 7 textos que foram publicados, num total que excedeu 400 linhas, só se fizeram 13 referências à CPLP.
Como compensação, achei muito simpática e prometedora a ideia de Renato de fazermos parte da guarda-avançada da CPLP.
Logo este espírito ardiloso me perguntou:
-“Mas uma guarda-avançada não pressupõe que atrás dela há um exército ? “
Tive de recorrer a toda a minha paciência para lhe explicar que nem sempre é assim ; que há exércitos que o não são, que existem e não existem, que podem ou não vir a sê-lo.
Capcioso, ele não perdeu a oportunidade de criar um raciocínio redutor :
-“Então é como a CPLP. Tem cerca de 240 milhões de soldados mas não tem exército !...
É como no caso de Roma; se não pagasse aos seus soldados um salário não teria exército!
Então,o que falta à CPLP é o sal ! “
Fiquei a pensar no assunto. Ele não terá razão ?
Temos Imperadores, temos Senadores, temos Generais, temos a guarda-avançada mas... onde está o exército ?
Enquanto não se der sal aos soldados nunca conseguiremos ter um exército. ( Não vou falar de Vieira ).
A CPLP é, na realidade, um ideal ! E os ideais, como tudo o resto, têm de ser, como diria um técnico de marketing, “vendidos”.
A História tem-nos provado isso.
Casimiro Ceivães afirmou que a CPLP tem falta evidente de direcção política. Concordo e direi mais: tem, também, falta de outra coisa que é indispensável : estratégia !
Dos seus objectivos, pode-se dizer que há uma enorme falta de noção das prioridades. Dos primeiros objectivos a alcançar, deveria fazer parte a divulgação generalizada.
Se alguém se desse ao trabalho de fazer hoje um inquérito, estou certo que concluiria que a maioria dos inquiridos desconhece a CPLP.
Com o meio extraordinário que temos hoje à nossa disposição, que é a Internet, seria fácílimo chegar até às camadas menos instruidas das populações. Sabemos como a Internet está divulgada entre a juventude portuguesa; na Galiza,creio ser a mesma coisa; no Brasil, qualquer favela, por muito pobre que seja, tem vários locais com acesso à Internet; em África a questão seria um pouco mais complicada mas, em parte, poderia ser resolvida.
A CPLP não faz nada para ganhar a colaboração dos meios de comunicação social que a ignoram olimpicamente.
Pelo menos a TV teria de ser um meio que a CPLP deveria saber utilizar em seu benefício. Em contrapartida a maioria das iniciativas da CPLP nem sequer são noticiadas.

São estas e outras lacunas que me levam a fazer o papel de advogado-do-diabo na esperança de que haja quem acorde para as realidades.
Sei que a figura do advogado-do-diabo é, quase sempre, incómoda mas a experiência tem-me mostrado que, em qualquer empreendimento, ela é indispensável para se obter sucesso.
ELEIÇÕES EM ANGOLA

É de salientar a presença de uma Comissão de Observadores da CPLP nas eleições em Angola.
É um acto, quanto mais não seja, afirmativo de existência.

De salientar, também, a opinião da chefe da comissão de observadores da UE, que classificou a organizaçao das eleições como "um desastre". Igualmente, a opinião contrária dos membros portugueses dessa comissão ( mas isso entende-se ).

De grande relevância será o parecer que a comissão da CPLP seja capaz de trazer a público.
Disso é que estou à espera com certa curiosidade.

domingo, 31 de agosto de 2008


Escreveu o Klatuu no último post: “Os impérios sempre conferiram maiores direitos de cidadania que os estados e garantem melhor a paz, impedindo a rivalidade entre os estados. É evidente que tornar-se Estado é a forma de afirmação da Nação, mas isto só é possível para as pequenas nações pelo recurso a uma terceira instância que é o «império».”
.1. Historicamente, nada de mais verdadeiro. Daí a necessidade das alianças ao longo dos séculos. De outro modo, há muito que Portugal tinha deixado de existir…
2. Nestas paragens, já passámos, contudo, o tempo das invasões*. Objectivamente, não há qualquer perigo de, por exemplo, sermos invadidos pela Espanha. O risco que poderia advir de Espanha seria a sua desintegração – e as consequências disso (voltaremos um dia a este ponto).
3. Não se pondo a questão de uma ameaça militar (a ameaça terrorista é outra coisa), há, decerto, outros planos a considerar – nomeadamente, o demográfico (sim, Portugal corre o risco de colapso demográfico) e o económico (apesar da “assistência” europeia). Mas, para esses, vai havendo sempre remédios, ou pelo menos, paliativos (que não iremos agora desenvolver).
4. Portugal, contudo, não é uma mera “empresa” - sob o ponto de vista empresarial, tudo isso se resolveria com uma mera “deslocalização”, como agora se diz. Portugal é um território (por definição, indeslocalizável) e, sobretudo, um povo, cuja singularidade está, essencialmente, na língua e na cultura. É esse o fundamento maior da nossa “independência”.
5. Sob esse ponto de vista, o risco maior à nossa independência seria a língua portuguesa ficar confinada a este nosso território (falamos sempre no plano do médio-longo prazo). Daí a aposta estratégica na Lusofonia: é do nosso interesse que a língua portuguesa se continue a falar nos diversos países da CPLP.
6. E, também, ponto decisivo, para os outros países da CPLP. Para os PALOPs (países africanos de língua oficial portuguesa), por exemplo, é a língua o grande factor de coesão nacional. Por isso (esclarecimento ao Casimiro) escrevi aqui que “é a razão o que sobretudo nos une”. Acredito mais na perpetuidade das alianças por interesse do que por paixão (as paixões esvaem-se; os interesses mantêm-se). Por isso, acredito no futuro da Lusofonia**. Tanto mais porque essa “plataforma linguística” tem virtualidades outras (económicas, por exemplo) ainda não de todo exploradas. Por isso, em suma, acredito no futuro de Portugal. Aliás, parafraseando o outro, se não acreditasse, não estaria aqui…* O mesmo não se passa ainda, por exemplo, na Europa de Leste (veja-se o que se está a passar na Geórgia) e em muitos locais do mundo. Daí, também, a fragilidade da independência timorense (ponto a desenvolver).** A este respeito, há, obviamente, que referir e salientar o papel do Brasil (outro ponto a desenvolver).
Publicada por Renato Epifânio em 22:34:00 4 comentários
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Caros, com pena de não ter mais tempo agora:
1. O assunto foi tomando, por assim dizer, a forma de uma estrela de David, de duplo triângulo: num plano, a tríade Vieira - Pessoa - Agostinho; num outro, a tríade Portugal - Europa - Lusofonia. Se quisermos, de um lado a idealização (Império, para manter a palavra) e, do outro, a realização (CPLP como caminho e, em pano de fundo, a globalização planetária). Curiosamente, cada vez mais claramente parece estarmos a falar de coisas completamente diferentes (foi a minha primeira reacção ao ler a "provocação" do Arnaldo); julgo que não estamos, e que nos falta no mapa um 7.º ponto, que não é vértice mas centro da estrela... Lá iremos ao andar da conversa, acho.
2. O que o Renato diz de Vieira, Pessoa e Agostinho é crucial, e merece análise mais funda: por agora, só dizer que o Agostinho está claríssimo, mas que, no Pessoa, a questão do "jogo literário" (precisamente por causa da sua possível confusão com qualquer "jogo interior") tem muito que se lhe diga, para não envolver uma petição de princípio: a de dar por demonstrado precisamente aquilo que em última análise toda a tradição de pensamento "esotérico-religiosa" (em amplíssimo sentido) repudia, e que é a ideia "moderna" de que o acto solitário, por si, não transforma o mundo (incluo neste "acto solitário" tudo o que vai da oração judeo-cristã à prática alquímica ou mágica).
3. Quanto à análise da situação actual, subscrevo quase inteiramente o que disse o Klatuu (o "quase" vem do ponto 2 e nasce só de ser eu, ao contrário, o maior céptico relativamente à minha racionalidade...). O ponto mais importante a meu ver vem trazido pelo Renato, e está nos pontos 4 (de ambos) sobre "europa das pátrias" e "europa imperial".
4. Da europa imperial há que excluir liminarmente a Inglaterra e o seu actual herdeiro americano, como tão perfeitamente compreendeu De Gaulle: o império destes não é império europeu mas império marítimo, e a vocação destes há-de ser sempre a de cercar e neutralizar a hipótese de um império continental (que na actual circunstância só pode ser russo-europeu).
5. De passagem, não penso que Portugal tenha sido alguma vez um império marítimo, ao contrário do que nos ensinam a pensar: marítimas eram, no tempo das nossas Descobertas, as potências com quem conflituámos (Veneza, Inglaterra, Holanda), e por isso a elas se deve a parte "material" da modernidade: o capitalismo na sua forma financeira, por exemplo. Mas à medida que Portugal se expandia (e expandia-se aprendendo, pois foi preciso re-conhecer primeiro o mundo a descobrir) procurou sempre uma plataforma continental em que ganhasse o fôlego de território que nesta faixa da europa lhe faltava, sendo a Índia e o Brasil as sucessivas hipóteses de centrar o império: através da expansão marítima, Portugal buscava penetrar na terra.
(a continuar)
Publicada por Casimiro Ceivães em 22:00:00 2 comentários
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