Mais dez breves notas – para o Arnaldo, o Casimiro, o Klatuu e o Clavis.
1. Portugal é um país europeu: geográfica e, mais do que isso, civilizacionalmente. Sempre foi (muito antes da maior parte dos outros países) e sempre há-de ser, enquanto existir.
2. Se essa condição é “eterna”, o actual modelo de construção europeia é meramente conjuntural. Nasceu ainda do rescaldo da 2ª Guerra Mundial e pelo facto da Alemanha ter ficado no estado em que ficou. Durante décadas, durante mais de meio século, a Alemanha aceitou pagar essa construção europeia sem reclamar qualquer voz política. Pela natural ordem das coisas (não há condenações eternas), isso está a mudar, e mudará cada vez mais…
3. O presente “salto em frente” da União Europeia, nomeadamente com a definição de uma política externa comum, é o seu canto do cisne. A Europa, a velha e eterna Europa, nunca terá uma política externa comum, pela simples mas suficiente razão de que a força da Europa está na sua pluralidade. Podia aqui multiplicar os exemplos: a França, tida como grande “europeísta”, sempre teve uma política própria; da Inglaterra nem vale a pena falar…
4. A construção europeia vai pois regressar à "Europa das Pátrias": é esse o seu destino. Há coisas mais fortes do que todos os voluntarismos de circunstância. É o chamado “Vento da História”.
5. E Portugal? Portugal, depois de 25 de Abril, quis fazer um corte com todo o seu passado. Exausto da guerra colonial (a maior razão para o golpe de estado), Portugal voltou as costas a todo o Ultramar (com algumas consequências bem trágicas) e empenhou-se em “regressar à Europa”. Daí essa obsessão de ter “a Europa connosco” (lema soarista) ou de sermos o “bom-aluno europeu” (lema cavaquista).
6. Passados já mais de trinta anos sobre o 25 de Abril, saradas (ou a caminho disso) as feridas do lado de cá e de lá, com uma nova geração já nascida depois de tudo isso, é tempo de refazer as pontes…
7. Refazendo as pontes com o mundo lusófono, Portugal não está pois a renegar a sua condição europeia, mas, ao invés, a cumpri-la: tal como o fazem, de diferentes modos, as outras potências europeias…
8. O que o MIL pretende, como já foi mil vezes dito, não é senão estimular essa dinâmica de reconvergência lusófona – todas as posições públicas que temos tomado é claramente a essa luz que devem ser lidas. No aprofundamento do que existe, ou seja, da CPLP. Não é senão isso o que queremos ser: a “guarda avançada” da CPLP, os que vão à frente a abrir caminho…
9. Até onde poderá ir essa convergência, não sei, nem acho que tenhamos que propor a priori modelos políticos. Por enquanto, a meu ver, importa apenas alimentar essa dinâmica: cooperação cultural, desde logo, mas também económica, cívica, social, institucional, diplomática, etc, etc, etc…
10. Decerto, é preciso caminharmos com cuidado, até porque, do lado de lá, há regimes que não inspiram a menor confiança (desnecessário nomear quais). Mas também isso irá, a pouco e pouco, mudar…
Publicada por Renato Epifânio em 16:57:00 1 comentários
Etiquetas: Comentários, CPLP, lusofonia, Polémica, V Império
Sem comentários:
Enviar um comentário