ALTERAÇÃO DO ENDEREÇO

terça-feira, 24 de agosto de 2010

-" Iberismo ou Ilusismo ?..."

Gibraltar e Olivença, vidas paralelas.

No ano de 1704, as tropas inglesas (aliança austríaca) que participaram na guerra civil espanhola, conhecida como de "sucesión", ocuparam Gibraltar. Foram 15 anos de guerra civil que originaram redução do PIB espanhol e diminuição da capacidade produtiva em cerca de 25%.
A guerra continuou até 1715, apesar de em 1713 se ter celebrado o Tratado de Utrecht, no qual Espanha cedeu ao ingleses, entre outras coisas, Gibraltar a título perpétuo.

Portugal envolveu-se, também, nesta guerra com tropas e dinheiros em apoio do pretendente Bourbon (Filipe de Anjou, apoiado pelo seu avó Luis XIV). Portugal celebrou com os Bourbon um pacto secreto, através do qual, em caso de vitória, teria as seguintes compensações : o território que corresponde ao triângulo que na zona do Tejo se introduz em Portugal (zona toda de cultura lusófona na altura) e outras zonas de fronteira historicamente vinculadas a Portugal (lugares de língua portuguesa) e mais alguns lugares fronteiriços na Galiza.
Ganha a guerra, os Bourbon, num estilo muito castelhano de cumprir pactos quando não teem intenção de cumprir, fizeram tábua rasa do tratado.

Vejamos o que aconteceu a Gibraltar.
Gibraltar passou a pertencer à Inglaterra. Os moradores de Gibraltar são conhecidos pela alcunha de “lhanitos” que continuam a usar e que é comum à dos habitantes de Puerto de Santa Maria, do outro lado da fronteira.
A Inglaterra, respeita em Gibraltar os títulos e méritos espanhois. Garante o culto católico nas igrejas e em Castelhano.... etc. etc….. e em mais de 300 anos de ocupação não há nenhum decreto, norma, ordem ou portaria, que proíba o uso da língua castelhana ou o seu ensino ou que lhe coloque alguma limitação. Isso, apesar de longos períodos de isolamento do resto peninsular, imposto pelos espanhois, o que deu lugar a repovoação com imigrantes extra-peninsulares.
Hoje em Gibraltar todo o mundo fala Inglês, mas praticamente todo o mundo “lhanito” fala em andaluz (variante dialectal espanhola muito distinta da norma padrão castelhana).
Quando o primeiro ministro do “Rochedo” fala para qualquer meio espanhol ou tv, fá-lo numa língua que para os restantes espanhóis é indistinguível da dos moradores do Puerto de Santa Maria.

Vejamos agora, por comparação, o que aconteceu com Olivença.
Olivença é logo ocupada na chamada “Guerra das Laranjas” em 1801. Em 1803 assina-se um tratado sob forte coação, onde Portugal se vê obrigado a ceder Olivença a Espanha. Porém, na Convenção de Viena, após a tempestade napoleónica, essa cedência é anulada e Espanha assina novo tratado no qual se compromete a devolver Olivença a Portugal.
Segundo o modelo espanhol e a sua habitual seriedade, esse tratado não foi e continua a não ser cumprido.
As agressões são constantes:
- A 20 de Fevereiro de 1805, foi decidido suprimir toda e qualquer escola portuguesa de Olivença, bem como o ensino do Português. (Olivença quando da sua ocupação, era a Vila mais populosa da actual Estremadura espanhola superando por ex. a vizinha Badajoz)
- A 14 de Agosto de 1805, as actas da Câmara Municipal passaram a ser escritas obrigatoriamente em Castelhano, o que fez uma vítima: Vicente Vieira Valério. Este, negando-se a escrever na Língua de Cervantes, teve de ceder o lugar a outro. E acabou por morrer à mingua de recursos, personificando um drama cujo desenvolvimento foi frequente para muitos oliventinos.
- As Escolas privadas continuaram a ministrar ensino em Português, até que são fechadas a 19 de Maio de 1813, com o propósito (oficial) "de evitar qualquer sentimento patriótico lusitano".
-Mas, porque eram muitos os oliventinos que queriam que os seus filhos fossem educados na língua materna, continuaram a existir professores particulares para o fazer. O "Ayuntamiento" não hesitou, e proibiram-se "as aulas particulares, sob pena de multa de 20 Ducados", em 1820.
- Em 1840, trinta e nove anos após a ocupação espanhola, o Português foi proíbido em Olivença; inclusivamente, os padres foram proíbidos de usarem, nas igrejas, o português.
- A partir de 1853 estabeleceram-se coimas para quem fosse apanhado na rua falando Português.

Política racista e de desprezo, de humilhação e de segregação, face aos falantes de Português. As autoridades castelhanas chegaram ao ponto de conseguir que a designação “português” fosse sinónimo de desprezo e insulto.

Ninguém espere que os presidentes das Càmaras de Olivença ou de Talega, ao falarem para qualquer meio de comunicação português, sigam o exemplo do seu colega de Gibraltar. Não vão usar a língua de Camões, porque nem a conhecem!...

Eis um bom exemplo para gritarmos "Viva o iberismo"!...
( ou ilusismo ?...),

(Adaptação duma ideia do nosso companheiro Alexandre Banhos, da Galiza.)

Nota:
hoje as coisas estão bastante melhor, graças à ação do Grupo dos Amigos de Olivença que pugnam para que Olivença faça parte da Lusofonia. No entanto, a História é uma grande professora que não podemos esquecer, tanto mais que, factos recentes não deixam que a esqueçamos ! ...

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